
Machado de
Assis (1839-1908) foi um escritor brasileiro. "Helena", "A Mão e
a Luva", "Iaiá Garcia" e "Ressurreição", são romances
escritos na fase romântica do escritor. Um dos nomes mais importantes da nossa
literatura. Primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras. Foi um autor
completo. Escreveu romances, contos, poesias, peças de teatro, inúmeras
críticas, crônicas e correspondências.
Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira e Novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.
— Ria, ria. Os homens são
assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo
da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar
as cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que
sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me
que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...
— Errou! Interrompeu Camilo,
rindo.
— Não diga isso, Camilo. Se
você soubesse como eu tenho andado, por sua causa. Você sabe; já lhe disse. Não
ria de mim, não ria...
Camilo pegou-lhe nas mãos, e
olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe queria muito, que os seus sustos
pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor
cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente
andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo, e depois...
— Qual saber! tive muita
cautela, ao entrar na casa.
— Onde é a casa?
— Aqui perto, na rua da
Guarda Velha; não passava ninguém nessa ocasião. Descansa; eu não sou maluca.
Camilo riu outra vez:
— Tu crês deveras nessas
coisas? perguntou-lhe.
Foi então que ela, sem saber
que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que havia muito cousa misteriosa e
verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a
cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranqüila
e satisfeita.
Cuido que ele ia falar, mas
reprimiu-se, Não queria arrancar-lhe as ilusões. Também ele, em criança, e
ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a
mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair
toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como
tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo
depois em uma só negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não
poderia dizê-lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo. E digo
mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante
do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.
Separaram-se contentes, ele
ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o estava,
mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais
que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do
encontro era na antiga rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de
Rita. Esta desceu pela rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde
residia; Camilo desceu pela da Guarda velha, olhando de passagem para a casa da
cartomante.
Vilela, Camilo e Rita, três
nomes, uma aventura, e nenhuma explicação das origens. Vamos a ela. Os dois
primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado.
Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo
médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe
arranjou um emprego público. No princípio de 1869, voltou Vilela da província,
onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir
banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a
bordo recebê-lo.
— É o senhor? exclamou Rita,
estendendo-lhe a mão. Não imagina como meu marido é seu amigo; falava sempre do
senhor.
Camilo e Vilela olharam-se
com ternura. Eram amigos deveras. Depois, Camilo confessou de si para si que a
mulher do Vilela não desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa e
viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa. Era um pouco mais
velha que ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vente e
seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o parecer mais velho que a
mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe
tanto a ação do tempo, como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço
de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.
Uniram-se os três.
Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a mãe de Camilo, e nesse
desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do
enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e
ninguém o faria melhor.
Como daí chegaram ao amor,
não o soube ele nunca. A verdade é que gostava de passar as horas ao lado dela;
era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e
bonita. Odor di femina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela,
para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e
passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela
mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a
ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele,
que os consultavam antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes
insólitas. Um dia, fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de
presente, e de Rita apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi
então que ele pôde ler no próprio coração; não conseguia arrancar os olhos do
bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos,
deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste com a
mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim
são as cousas que o cercam.
Camilo quis sinceramente
fugir, mas já não pôde. Rita como uma serpente, foi-se acercando dele,
envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na
boca. Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo
sentiu de mistura; mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus,
escrúpulos! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos,
estrada fora, braços dados, pisando folgadamente por cima de ervas e
pedregulhos, sem padecer nada mais que algumas saudades, quando estavam
ausentes um do outro. A confiança e estima de Vilela continuavam a ser as
mesmas.
Um dia, porém, recebeu
Camilo uma carta anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia que a
aventura era sabida de todos. Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas,
começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências.
Camilo respondeu que o motivo era uma paixão frívola de rapaz. Candura gerou
astúcia. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram inteiramente. Pode
ser que entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de
diminuir os obséquios do marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato.
Foi por esse tempo que Rita,
desconfiada e medrosa, correu à cartomante para consultá-la sobre a verdadeira
causa do procedimento de Camilo. Vimos que a cartomante restituiu-lhe a
confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez. Correram ainda
algumas semanas. Camilo recebeu mais duas ou três cartas anônimas, tão
apaixonadas, que não podiam ser advertência da virtude, mas despeito de algum
pretendente; tal foi a opinião de Rita, que, por outras palavras mal compostas,
formulou este pensamento: — a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem
papel; só o interesse é ativo e pródigo.
Nem por isso Camilo ficou
mais sossegado; temia que o anônimo fosse ter com Vilela, e a catástrofe viria
então sem remédio. Rita concordou que era possível.
— Bem, disse ela; eu levo os
sobrescritos para comparar a letra com a das cartas que lá aparecerem; se
alguma for igual, guardo-a e rasgo-a...
Nenhuma apareceu; mas daí a
algum tempo Vilela começou a mostrar-se sombrio, falando pouco, como
desconfiado. Rita deu-se pressa em dizê-lo ao outro, e sobre isso deliberaram.
A opinião dela é que Camilo devia tornar à casa deles, tatear o marido, e pode
ser até que lhe ouvisse a confidência de algum negócio particular. Camilo
divergia; aparecer depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denúncia.
Mais valia acautelarem-se, sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram os
meios de se corresponderem, em caso de necessidade, e separaram-se com
lágrimas.
No dia seguinte, estando na
repartição, recebeu Camilo este bilhete de Vilela: "Vem já, já, à nossa
casa; preciso falar-te sem demora." Era mais de meio-dia. Camilo saiu
logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por
que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a letra, fosse realidade ou
ilusão, afigurou-se-lhe trêmula. Ele combinou todas essas coisas com a notícia
da véspera.
— Vem já, já, à nossa casa;
preciso falar-te sem demora, — repetia ele com os olhos no papel.
Imaginariamente, viu a ponta
da orelha de um drama, Rita subjugada e lacrimosa, Vilela indignado, pegando na
pena e escrevendo o bilhete, certo de que ele acudiria, e esperando-o para
matá-lo. Camilo estremeceu, tinha medo: depois sorriu amarelo, e em todo caso
repugnava-lhe a idéia de recuar, e foi andando. De caminho, lembrou-se de ir a
casa; podia achar algum recado de Rita, que lhe explicasse tudo. Não achou
nada, nem ninguém. Voltou à rua, e a idéia de estarem descobertos parecia-lhe
cada vez mais verossímil; era natural uma denúncia anônima, até da própria
pessoa que o ameaçara antes; podia ser que Vilela conhecesse agora tudo. A
mesma suspensão das suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto
fútil, viria confirmar o resto.
Camilo ia andando inquieto e
nervoso. Não relia o bilhete, mas as palavras estavam decoradas, diante dos
olhos, fixas; ou então, — o que era ainda peior, — eram-lhe murmuradas ao
ouvido, com a própria voz de Vilela. "Vem já, já à nossa casa; preciso
falar-te sem demora." Ditas, assim, pela voz do outro, tinham um tom de
mistério e ameaça. Vem, já, já, para quê? Era perto de uma hora da tarde. A
comoção crescia de minuto a minuto. Tanto imaginou o que se iria passar, que
chegou a crê-lo e vê-lo. Positivamente, tinha medo. Entrou a cogitar em ir
armado, considerando que, se nada houvesse, nada perdia, e a precaução era
útil. Logo depois rejeitava a Idea, vexado de si mesmo, e seguia, picando o
passo, na direção do largo da Carioca, para entrar num tílburi. Chegou, entrou
e mandou seguir a trote largo.
— Quanto antes, melhor,
pensou ele; não posso estar assim...
Mas o mesmo trote do cavalo
veio agravar-lhe a comoção. O tempo voava, e ele não tardaria a entestar com o
perigo. Quase no fim da rua da Guarda Velha, o tílburi teve de parar; a rua
estava atravancada com uma carroça, que caíra. Camilo, em si mesmo, estimou o
obstáculo, e esperou. No fim de cinco minutos, reparou que ao lado, à esquerda,
ao pé do tílburi, ficava a casa da cartomante, a quem Rita consultara uma vez,
e nunca ele desejou tanto crer na lição das cartas. Olhou, viu as janelas
fechadas, quando todas as outras estavam abertas e pejadas de curiosos do
incidente da rua. Dir-se-ia a morada do indiferente Destino.
Camilo reclinou-se no
tílburi, para não ver nada. A agitação dele era grande, extraordinária, e do
fundo das camadas morais emergiam alguns fantasmas de outro tempo, as velhas
crenças, as superstições antigas. O cocheiro propôs-lhe voltar a primeira
travessa, e ir por outro caminho; ele respondeu que não, que esperasse. E
inclinava-se para fitar a casa... Depois fez um gesto incrédulo: era a idéia de
ouvir a cartomante, que lhe passava ao longe, muito longe, com vastas asas
cinzentas; desapareceu, reapareceu, e tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a
pouco moveu outra vez as asas, mais perto, fazendo uns giros concêntricos... Na
rua, gritavam os homens, safando a carroça:
— Anda! agora! empurra! vá!
vá!
Daí a pouco estaria removido
o obstáculo. Camilo fechava os olhos, pensava em outras cousas; mas a voz do
marido sussurrava-lhe às orelhas as palavras da carta: "Vem já,
já..." E ele via as contorções do drama e tremia. A casa olhava para ele.
As pernas queriam descer e entrar... Camilo achou-se diante de um longo véu
opaco... pensou rapidamente no inexplicável de tantas cousas. A voz da mãe repetia-lhe
uma porção de casos extraordinários; e a mesma frase do príncipe de Dinamarca
reboava-lhe dentro: "Há mais cousas no céu e na terra do que sonha a
filosofia..." Que perdia ele, se...?
Deu por si na calçada, ao pé
da porta; disse ao cocheiro que esperasse, e rápido enfiou pelo corredor, e
subiu a escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o corrimão
pegajoso; mas ele não viu nem sentiu nada. Trepou e bateu. Não aparecendo
ninguém, teve idéia de descer; mas era tarde, a curiosidade fustigava-lhe o
sangue, as fontes latejavam-lhe; ele tornou a bater uma, duas, três pancadas.
Veio uma mulher; era a cartomante. Camilo disse que ia consultá-la, ela fê-lo
entrar. Dali subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais
escura. Em cima, havia uma salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para
os telhados do fundo. Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que
antes aumentava do que destruía o prestígio.
A cartomante fê-lo sentar
diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de
maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma
gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as
baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos.
Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos
sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:
— Vejamos primeiro o que é
que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...
Camilo, maravilhado, fez um
gesto afirmativo.
— E quer saber, continuou
ela, se lhe acontecerá alguma coisa ou não...
— A mim e a ela, explicou
vivamente ele.
A cartomante não sorriu;
disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez as cartas e baralhou-as, com
os longos dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços,
uma, duas, três vezes; depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos
nela, curioso e ansioso.
— As cartas dizem-me...
Camilo inclinou-se para
beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de
nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo.
Não obstante, era indispensável mais cautela; ferviam invejas e despeitos.
Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de Rita... Camilo estava deslumbrado.
A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.
— A senhora restituiu-me a
paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e apertando a da
cartomante.
Esta levantou-se, rindo.
— Vá, disse ela; vá, ragazzo
innamorato...
E de pé, com o dedo
indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu, como se fosse mão da própria
sibila, e levantou-se também. A cartomante foi à cômoda, sobre a qual estava um
prato com passas, tirou um cacho destas, começou a despencá-las e comê-las,
mostrando duas fileiras de dentes que desmentiam as unhas. Nessa mesma ação
comum, a mulher tinha um ar particular. Camilo, ansioso por sair, não sabia
como pagasse; ignorava o preço.
— Passas custam dinheiro,
disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas quer mandar buscar?
— Pergunte ao seu coração,
respondeu ela.
Camilo tirou uma nota de dez
mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante fuzilaram. O preço usual era dois
mil-réis.
— Vejo bem que o senhor
gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do senhor. Vá, vá tranqüilo.
Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu...
A cartomante tinha já
guardado a nota na algibeira, e descia com ele, falando, com um leve sotaque.
Camilo despediu-se dela embaixo, e desceu a escada que levava à rua, enquanto a
cartomante alegre com a paga, tornava acima, cantarolando uma barcarola. Camilo
achou o tílburi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu a trote largo.
Tudo lhe parecia agora
melhor, as outras cousas traziam outro aspecto, o céu estava límpido e as caras
joviais. Chegou a rir dos seus receios, que chamou pueris; recordou os termos
da carta de Vilela e reconheceu que eram íntimos e familiares. Onde é que ele
lhe descobrira a ameaça? Advertiu também que eram urgentes, e que fizera mal em
demorar-se tanto; podia ser algum negócio grave e gravíssimo.
— Vamos, vamos depressa,
repetia ele ao cocheiro.
E consigo, para explicar a
demora ao amigo, engenhou qualquer cousa; parece que formou também o plano de
aproveitar o incidente para tornar à antiga assiduidade... De volta com os
planos, reboavam-lhe na alma as palavras da cartomante. Em verdade, ela
adivinhara o objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro;
por que não adivinharia o resto? O presente que se ignora vale o futuro. Era
assim, lentas e contínuas, que as velhas crenças do rapaz iam tornando ao de
cima, e o mistério empolgava-o com as unhas de ferro. Às vezes queria rir, e
ria de si mesmo, algo vexado; mas a mulher, as cartas, as palavras secas e
afirmativas, a exortação: — Vá, vá, ragazzo innamorato; e no fim, ao longe, a
barcarola da despedida, lenta e graciosa, tais eram os elementos recentes, que
formavam, com os antigos, uma fé nova e vivaz.
A verdade é que o coração ia
alegre e impaciente, pensando nas horas felizes de outrora e nas que haviam de
vir. Ao passar pela Glória, Camilo olhou para o mar, estendeu os olhos para
fora, até onde a água e o céu dão um abraço infinito, e teve assim uma sensação
do futuro, longo, longo, interminável.
Daí a pouco chegou à casa de
Vilela. Apeou-se, empurrou a porta de ferro do jardim e entrou. A casa estava
silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta
abriu-se, e apareceu-lhe Vilela.
— Desculpa, não pude vir
mais cedo; que há?
Vilela não lhe respondeu;
tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior.
Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: — ao fundo sobre o
canapé, estava Rita morta e ensanguentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com
dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.
Boa tarde, Ailla! parabéns primeiramente pelo seu blog. Muito interessante o seu tema, é isso mesmo temos que resgatar nossa literatura, poemas e poesias e que são conteúdos prazerosos de trabalhar em sala de aula. É sempre bom ter um espaço, no qual possamos compartilhar nosso conhecimento e aprendizado com os outros leitores, pois além de estarmos ensinado o que aprendemos, estamos também aprendendo a ensinar.
ResponderExcluirMuito boa a sua escolha, parabéns!
E para os leitores interessados em gramática dá uma olhadinha no meu blog que assim como este esta repleto de muito conhecimento e aprendizado de maneira simples, coesa e clara. https://mundodasletrasgramaticaaplicada.blogspot.com.br/
Vandilma Farias Oliveira
Letras/ Português 2013.1
UAB/IFAL
polo Santana do Ipanema
Boa tarde, Ailla!
ResponderExcluirSeu blog é lindo e rico em conhecimento. Dá vontade de ficar nele o dia todo.rsrsrs
Através do seu blog podemos aumentar o conhecimento, o hábito pela leitura, aprimorar o vocabulário e a construção de textos. Parabéns e muito sucesso!
Rafaele da Silva Costa
Letras\Português
UAB/IFAL
Boa tarde, Ailla!
ResponderExcluirSeu blog é lindo e rico em conhecimento. Dá vontade de ficar nele o dia todo.rsrsrs
Através do seu blog podemos aumentar o conhecimento, o hábito pela leitura, aprimorar o vocabulário e a construção de textos. Parabéns e muito sucesso!
Rafaele da Silva Costa
Letras\Português
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